Deus chora.
Chora o Pai que vê dois filhos amados a matarem-se...
Chora em Gaza e em Telavive, entre o pó e o sangue, entre gritos e orações interrompidas.
Chora por cada criança que não volta,
por cada mãe que enlouquece de ausência,
por cada casa que se torna sepultura.
Deus chora — porque ama os filhos dos dois lados.
Mas o pranto de Deus não é resignação.
É apelo.
É pergunta.
É esperança teimosa de que ainda sejamos capazes de amor.
O homem, porém, continua a erguer muros e certezas, a medir quem merece viver, a justificar o injustificável.
Há quem morra sob bombas e há quem morra em silêncio — e talvez este seja o maior pecado:
👉 o silêncio cúmplice, o conforto das palavras neutras, a fé que se protege e não se expõe.
Não podemos ficar imóveis à beira do caminho.
Não podemos congelar a vida,
nem amar com fastio.
Não nos salvemos agora, nem nunca,
se a nossa salvação for o preço da dor dos outros.
(Mário Benedetti)
Porque Deus não habita no medo, nem na indiferença.
Habita no coração que sonha,
na voz que grita,
no olhar que ainda se atreve a ver o outro como irmão.
Há quem diga que Deus se calou.
Mas talvez sejamos nós quem fez tanto ruído que já não O ouvimos.
Talvez Ele ainda nos fale nas ruínas,
nas mãos que carregam corpos,
nas crianças que perguntam “porquê?” sem resposta.
Talvez Deus ainda esteja a dizer:
“Não fiques sem sonhos,
não te julgues sem tempo,
não te penses sem sangue.
Não te salves — ama.”
Enquanto houver alguém que se recusa a aceitar o ódio como destino,
enquanto alguém ainda se ajoelha diante da dor e escolhe cuidar,
Deus não desistirá de nós.
A guerra é humana.
Mas a paz também o é.
E é urgente que deixemos de ser espectadores do pranto de Deus.
* Padre João Torres
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