Os rostos, queimados pelo sol, trazem estampado o cansaço, os pés, doridos, arrastam o corpo combalido na última etapa de uma caminhada feita a pé em direção ao Santuário de Fátima.
“Custa tudo muito”, desabafou esta manhã à agência Lusa Maria Augusta Monteiro, de 69 anos, quando faltava apenas um quilómetro dos cerca de 250 que religiosamente cumpre há 38 anos desde Amarante até Fátima devido a um problema de saúde.
Com ela, mais duas pessoas e um carro de apoio tornam a viagem menos difícil.
Os rostos, queimados pelo sol, trazem estampado o cansaço, os pés, doridos, arrastam o corpo combalido na última etapa de uma caminhada feita a pé em direção ao Santuário de Fátima.
“Nos primeiros anos vinha com o saco às costas e era mais doloroso”, contou, explicando que à Virgem de Fátima vai renovar o pedido de saúde para si e para os seus.
Mas para o país, a peregrina vai também dirigir uma prece: “Que isto se ponha tudo em bem”, disse.
Como Maria Augusta Monteiro, milhares de peregrinos, de norte a sul do país, estão a deslocar-se a pé para Fátima, onde muitos vão permanecer até sexta-feira para participar na peregrinação internacional aniversária ao maior templo mariano do país.
O Santuário de Fátima estima em 35.000 o número de fiéis que por estes dias fazem a caminhada a pé, menos cerca de 5.000 que no ano passado, quando o papa Bento XVI visitou o templo.
São várias as razões que os caminhantes apontam para a realização da viagem: desde o cumprimento de uma promessa ou o agradecimento de alguma graça, desde a fé ao convívio, do sacrifício ao desporto.
Manuel Cruz, de 35 anos, de Nelas, Viseu, foi uma primeira vez a Fátima cumprir uma promessa. Agora, na sexta caminhada a pé, confessa que esta peregrinação, de mais de 150 quilómetros, se tornou um “ritual”.
“Acho que nos puxa para cá todos os anos, é um sentimento inexplicável”, declarou, admitindo que, neste momento, não consegue passar um ano sem repetir a peregrinação.
No caso de António Pais, de 65 anos, a peregrinação foi uma espécie de “vírus” que se lhe instalou no corpo quando, há 36 anos, foi ao Santuário de Fátima agradecer pela “vida militar”.
Hoje, com mais 13 pessoas, organiza um dos maiores grupos – o de Espinho - que, todos os anos, repete em maio a peregrinação a pé.
Das 278 pessoas inscritas para esta jornada, que tem o apoio de várias empresas e entidades, António Pais lamentou terem ficado pelo caminho 20, que não aguentaram fisicamente os cerca de 200 quilómetros.
Neste grupo, Maria Emília Pinhal, de 70 anos, é a decana das peregrinas. As pernas contam 50 caminhadas certinhas até Fátima, depois de ter pedido à Virgem que desse visão a uma pessoa que tinha em casa.
As suas orações foram atendidas, as suas peregrinações continuam.
“A coisa mais linda, mais bonita que me ensinaram foi vir a Fátima a pé”, disse, quando o grupo aproveitava para descansar em Santa Catarina da Serra, freguesia vizinha de Fátima, antes de palmilhar os últimos oito quilómetros da caminhada.
Num outro grupo, também de Espinho, António Santos, de 52 anos, que carregava um cajado com uma cruz e várias imagens, entre as quais as do papa João Paulo II e de Bento XVI, adivinhava a emoção de chegar ao santuário: “Muita paz, muita alegria, depois de estar lá e fazer o que tenho a fazer, um alívio, fico leve”.
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