Os Lázaros (pobres, marginalizados) ao lado da minha porta
poema de Florentino Ulibarri:
Os Lázaros:
os filhos da rua,
os párias de sempre,
os sem-abrigo,
os desempregados,
os desenraizados,
os apátridas,
os sem documentos,
os mendigos,
os maltrapilhos,
os esfarrapados,
os pobres de solenidade,
os cheios de feridas,
os sem direitos,
os imigrantes ilegais,
os de estômago vazio,
os que não contam,
os marginalizados,
os fracassados,
os santos inocentes,
os donos de nada,
os perdedores,
os que não têm nome,
os ninguém...
Os Lázaros:
que não são, embora sejam,
que não leem, mas soletram,
que não falam línguas, mas dialetos,
que não cantam, mas desafinam,
que não professam religiões, mas superstições,
que não têm lírica, mas tragédia,
que não acumulam capital, mas dívidas,
que não fazem arte, mas artesanato,
que não praticam cultura, mas costumes,
que não chegam a ser jogadores, mas espectadores,
que não são cidadãos reconhecidos, mas estrangeiros,
que não chegam a ser protagonistas, mas figurantes,
que não pisam tapetes, mas terra,
que não conseguem créditos, mas despejos,
que não inovam, mas reciclam,
que não sobem em iates, mas em embarcações improvisadas de borracha ou madeira (pateras),
que não são profissionais, mas peões,
que não chegam à universidade, mas ao ensino básico,
que não se sentam à mesa, mas no chão,
que não recebem medicamentos, mas lambidas de cães,
que não se queixam, mas se resignam,
que não têm nome, mas número,
que não são seres humanos, mas recursos humanos...
Os Lázaros:
aqueles que se envergonham e nos envergonham,
povoam a nossa história,
foram os Teus prediletos, Jesus,
e estão muito presentes no teu Evangelho.
Os Lázaros
pertencem à nossa família,
embora não apareçam na fotografia,
e serão eles que nos devolverão a identidade
e a dignidade perdidas.
Florentino Ulibarri, em Fé Adulta, traduzido no link: https://www.feadulta.com/es/buscadoravanzado/item/4137-los-lazaros.html
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