domingo, 29 de maio de 2011

GÊNESIS - A CRIAÇÃO - Deus e o Homem

4 - DEUS E O HOMEM
    Desde a origem estabeleceu Deus um distinto e profundo relacionamento, e singular convívio, com o Homem. Manifesta-se desde então ora como estreita colaboração mútua ora como profunda comunhão de vidas e intimidade bem familiar. Em qualquer caso, porém, ocupa o Homem uma posição ímpar de colaborador e coordenador da Obra de Deus, pelo que se pode dizer ser ele o catalisador da Criação. É que apesar da perfeição que coroa cada ato criativo particular ou conjunto de Deus, há sempre presente uma demanda nas coisas criadas, a exigir um ordenador comum e inteligente - O HOMEM, "imagem e semelhança de deus" (Gn 1,26). É o caso da mescla em que se nos apresenta a natureza: tudo misturado e esparso, gêneros e espécies, a compor determinado ambiente. Cabe ao Homem separar, ordenar e semear conforme o consumo, separando, ordenando e semeando por gênero e espécie, função essa bem destacada na ocasião:

"No tempo em que Iahweh Deus fez a terra e o céu, não havia ainda nenhum arbusto dos campos sobre a terra e nenhuma erva dos campos tinha ainda crescido, porque Iahweh Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem para cultivar o solo" (Gn 2,4-6).


Deus tudo criara com aptidão imanente para germinar e propagar-se. Além disso, oferecia a chuva, cabendo ao Homem o cultivo do solo. Estabeleceu-se então entre ambos, Deus e o Homem, verdadeiro consórcio de tarefas, um "co-múnus", uma comunhão num primeiro relacionamento: Deus propiciava a chuva, e o Homem oferecia o seu trabalho. Ao Homem cabia cultivar o solo, eis um dos motivos imediatos da sua Criação, e ainda o deslocamento dele para outra situação em nova dimensão ou novo estado de vinculação relacional com Deus:


"Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em sua narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente." / "Iahweh Deus plantou um Jardim em Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara... Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar e guardar" (Gn 2,7-8.15).


É uma maneira diferente de dizer a mesma coisa já dita com outras palavras: Ao "insuflar em suas narinas o hálito de vida" Deus cria o Homem "a sua imagem e semelhança" e ao "colocá-lo no Jardim que Ele mesmo plantara" modifica a sua situação e o distingue dos outros seres já criados. Criando o Homem para cultivar o solo, não havia a necessidade de lhe preparar um local especial para aí o colocar, a não ser que se pretenda evidenciar a existência de um relacionamento especial preparado pelo próprio Criador. E, tendo sido preparado e ordenado pelo próprio Deus, só pode ser uma maior aproximação de ambos, Deus e o Homem, o que traz para o último uma profunda modificação em seu estado, elevando-o a um relacionamento sobrenatural. Pode-se vislumbrar sem esforço a existência de dois campos de relacionamento entre Deus e o Homem, quais sejam:

      • o primeiro é aquele em que Deus fornece a chuva e o homem fornece seu trabalho no cultivo da terra (Gn 2,5-6); e,
      • o segundo, onde Ele mesmo planta um "jardim" e nele "coloca" o Homem para dele "cuidar" (Gn 2,7-15).
    Há fundamental diferença entre ambos, eis que no último aprofunda-se a vinculação entre Deus e o Homem, colocado num jardim especialmente preparado, com a finalidade de "cultivá-lo e guardá-lo" (Gn 2,15). É como se fossem dois mundos que se destinavam ao cultivo do homem. Neste último Deus "passeava à brisa do dia" (Gn 3,8), caracterizando-se com essa sua "presença física" a elevação do estado do Homem a uma verdadeira comunhão de vidas entre ambos, fruto de ato exclusivo de Deus. O Homem de então participa da Criação pelo trabalho e da vida divina pela comunhão sobrenatural com Deus. Estabelece-se assim, desde o início, um convívio mais dependente e íntimo, uma profunda familiaridade. Essa comunhão de vidas foi e é ainda o ápice de toda a Criação, percebendo-se já o grande privilégio conferido ao Homem, tratado e considerado em ambas as dimensões como o único centro gravitacional da atenção generosa, amorosa e objetiva de Deus. Por causa disso é que Adão "dá o nome" a todas as criaturas (Gn 2,20), eis que nomear biblicamente significa ser dono:

"... chamei-te pelo teu nome: meu tu és" (Is 43,1).


Desde essa integração e relacionamento comum apresentaram-se os vários elementos indissociáveis e que compõem a natureza humana e se destinam à consecução de um desenrolar antecipadamente elaborado, planejado e estabelecido, apesar de profundamente livre. Uma espécie de plano geral, tal como uma obra "inteligente e pensada", elaborado pelo próprio Deus, no qual o Homem se torna participante ativo e consciente. Goza então da glória e da felicidade de uma vida em estreita comunhão, intimidade e familiaridade pessoais com o Criador. Estabelece Deus com o Homem, pessoa a pessoa, um "consórcio de tarefas" (Gn 2,5-6) e uma "comunhão de vidas" (Gn 2,7-15).
A partir de então Deus sempre quer manter viva e dinâmica essa intimidade, familiaridade e comunhão de amor com o Homem, sua Criação predileta, a quem destinou toda a Criação:


"Deus abençoou-os e lhes disse: ‘Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra" (Gn 1,28).


Recebe o Homem diretamente de Deus toda a Criação. O tom imperativo da entrega denota toda uma dinâmica em que se fundará a atividade humana e a íntima relação entre Deus e toda a humanidade. È a linha de toda a História. Este desígnio de Deus é o mesmo até hoje, e será o mesmo até o fim dos tempos, na culminação de toda a Obra. Nada, nem mesmo qualquer ato humano, pode alterar ou perturbar a realização dos Planos de Deus, em si; pode perturbar apenas o recebimento dos benefícios, retardando-os apenas quanto ao próprio Homem e à Criação, na História: A Criação é um ato irreversível de Deus.

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