sábado, 21 de maio de 2011

GÊNESIS 1 - A Criação


1. A ORIGEM
    O homem é sempre atormentado pela consciência que tem da inexorável morte; morte, que é o término da existência, a revelar-lhe a vida; vida a pulular em vários matizes e formas a revelar-lhe um ordenamento; ordenamento inteligente a revelar-lhe a Criação; Criação a revelar-lhe o Criador - DEUS:
"Sua realidade invisível - seu eterno poder e sua divindade - tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas..." (Rm 1,20).
A ORIGEM é um desafio à inteligência e a existência é um mistério ainda não desvendado. O homem quer conhecer a origem de tudo e a finalidade da existência. Vê que na natureza tudo é cíclico: o dia começa, atinge o seu clímax e termina, para reiniciar de novo em outro dia, sucessivamente; igualmente, as fases da lua; também, as estações do ano a anunciar em cada primavera o reiniciar e a continuidade existencial: novos frutos, novas ninhadas e novos seres. Tudo recomeça. Tudo lhe inspira um começo novo e um fim a vista. Tudo lhe inspira um recomeço após a morte e sente o anseio pela vida eterna. Assim como tudo termina, tudo deve ter um começo. E então o procura, o começo de tudo e a própria origem. Tem a esperança de que o conhecimento da origem de tudo venha a lhe revelar para que existe: só quem sabe de onde vem sabe aonde vai, e a que se destina. Busca então localizar as minúcias tanto físicas como cronológicas da sua origem obscura. Também os contornos e detalhes que desconhece da sua criação, origem e formação. Não só de si mesmo, mas de tudo o mais que existe e o cerca. Mas, até hoje, só pôde conhecer alguns traços ainda indecifráveis e complexos de seu pequenos e esparso percurso histórico, e focalizado nas sucessões cronológicas da sua existência, que se manifestam aqui e acolá, fossilizados e dispersos no mundo por onde passa. A origem propriamente dita, real, permanece-lhe um mistério, um enigma, não conseguindo atingi-la. No âmago de toda a dinâmica existencial o homem é o mistério do homem: não sabe de onde veio e não sabe aonde vai; e, não sabendo disto, nada sabe de si mesmo, nem mesmo o que é.
    Ao narrador bíblico, ao hagiógrafo, não existiu tal mistério insondável e nem lhe preocuparam muitos detalhes e complexidades: para ele a origem e o fim de tudo é DEUS, O CRIADOR DE TUDO O QUE EXISTE:
"No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo. O Espírito de Deus pairava sobre as águas" (Gn 1,1-2).
Seus conhecimentos, "sua ciência", eram delimitados por aquilo, e somente por aquilo que lhe informavam os sentidos nus. Não possuía telescópios nem microscópios, desconhecia qualquer fenômeno físico, químico ou bacteriológico, bem como desconhecia por completo toda e qualquer conquista científica. E, com os parcos recursos de que dispunha, traçou a linha de sua concepção humana da Obra de Deus, culturalmente condicionada ao seu tempo. Nascia assim a primeira "teoria científica" da origem de tudo que o envolvia, profundamente mesclada com a concepção religiosa e doutrinária, condicionada à sua época e mentalidade. Por causa disso torna-se sumamente injusto avaliar a sua teoria ou o seu desenvolvimento com base nas conquistas modernas, exigindo dele conhecimentos que não possuía. É indispensável um deslocar à sua cultura para melhor compreendê-lo, separando-se ainda a verdade religiosa aí mesclada por revelação e inspiração de Deus, já que ninguém presenciou a Obra da Criação. Narra tudo com simplicidade e sem se deixar prender e perder por mitos, superstições, fantasias ou lendas, apesar de estar tudo paradoxalmente mesclado nela. Então, quando diz que "Deus criou o céu e a terra", diz que "Deus criou tudo o que existe", já que era tudo o que conhecia, todo o seu universo, o qual se resumia ao que seus sentidos lhe informavam. Não conhecia nem poderia conhecer as galáxias ou outros astros do sistema solar ou do universo astronômico.

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